“... Tranqüilamente, alheio ao frenesi neofágico das propostas vanguardeiras, Duprat se refugiou na mais estrita fidelidade ao que ele chama “o enigma da realidade visível”. Esse enigma, os óleos de Marcos Duprat o armam, decifram e rearmam num estilo translúcido, cristalino, onde as mudanças cromáticas sugerem momentos de mágicas metamorfoses. Os planos são dispostos, as camadas superpostas, a cor nasce da “velatura” — um processo colorístico de nobre linhagem, que exige um trabalho em ritmo artesanal, a léguas da herança turbulenta, e ainda tão influente, de Pollock e seus discípulos. Uma pintura lenta, em adágio, propícia à meditação do duplo, à ponderação da série, à perquirição da profundidade — todos temas desses óleos peritos em focalizar o prolongamento de uma imagem noutra, o reflexo no espelho ou na água, os corredores engavetados em túnel, a delicada modulação de seqüências.
Plena poesia da imagem, pintura personalíssima, onde o extremo, sábio despojamento encobre um diálogo constante com a melhor tradição figurativa. Marcos Duprat restitui nossa pintura ao reino sedutor da representação articulada, fonte de sonho e devaneio. O visível se faz mistério à força de claridade e transparência. Calmas e límpidas, essas imagens se/nos interrogam. E que é a pergunta, indaga um mestre, senão o desejo do pensamento? ...”
José Guilherme Merquior, MASP, 1988
“... Não obstante o intenso jogo de luz e sombra, a existência material dessas imagens é etérea, com uma qualidade quase atmosférica... E esse mundo recriado é todo ilusão de uma realidade sutil que se estende além da sua própria transparência...”
TAKESHI KANAZAWA, Tóquio, 2003
“... Em 1990, Duprat organizou os elementos de sua arte em um esquema geométrico que pode ser interpretado como um sumário construtivo de sua meta criativa. Os seguintes elementos coexistem nesse jogo, que pode ser lido tanto no sentido horizontal como no vertical: interior, figura, natureza morta; espaço, luz, tempo; mito, realidade e mistério[...] A estrutura de clareza cristalina de seus espaços - às vezes é apenas o próprio espaço o tema da pintura - leva a pensar que o construtivismo clássico foi uma influência predominante em sua obra. O seu leitmotiv é a meditação lírica, o silêncio[...] mas a tranquilidade da meditação/reflexão é rompida por uma emoção externa e irresistível. A arte de Marcos Duprat questiona o passado, o presente e o futuro no emocionante limite entre a realidade e o mistério.”
Budapeste, 29 de Junho de 1992
GÉZA CSORBA
“... O seu leitmotiv é a meditação lírica, o silêncio... essas imagens questionam o passado e o futuro no emocionante limite entre a realidade e o mistério.”
GÉZAC SORBA, Diretor do Museu Nacional da Hungria, Budapeste, 1992
“... Apesar de seu isolamento, os corpos estilizados revelam esperança na atitude distendida e expectante, sempre enfrentando a luz, sem angústia, serenos e plácidos, demonstrando plenitude e paz. Os pisos com suas linhas retas perfeitas convergentes sugerem a profundidade em espaços abertos. Sua gama cromática é em tons pastéis; trabalha o óleo em camadas sobrepostas obtendo transparências de uma sensorialidade excepcional e uma grande riqueza [...] As telas de Marcos Duprat transbordam luminosidade. Seus nus avançam para um novo amanhecer da História. Como afirma George Kubler em seu livro “A configuração do tempo” : “todo artista importante revela uma obsessão”. E adiciona: “O inovador mais extraordinário é virtualmente um solitário.”
Marcos Duprat é as duas coisas, confirmando assim sua condição de criador de primeira magnitude neste final do século XX.”
Prof. Maria Luisa Torrens, Diretora do Museu de Arte Contemporânea de Montevidéu, 1999
“A luz transformadora ocupa as imagens com o propósito incomum de desarticular e desconstruir a composição... Trava-se um jogo ótico entre o corpóreo das cenas e o incorpóreo da luz...”
Radha Abramo, São Paulo, 1999
“A luz é uma das fontes fundamentais da pintura. As madonas de Rafael, o sorriso da Gioconda de Da Vinci, os retratos de Rembrandt, todos esse artistas conseguiram capturar o mistério da luz e da sombra. Este motivo ainda predomina através dos tempos, mesmo atualmente, quando assistimos a mudanças dramáticas nas formas artísticas de expressão.
Marcos Duprat, nascido no Rio de Janeiro, desenvolveu sua significativa carreira de artista centrando a sua expressão na estética de imagens criadas pelo dom da natureza: a luz. Seus temas principais são figuras, interiores e naturezas-mortas, sutilmente ligados uns aos outros. Agua e espelhos – que aparecem freqüentemente em suas pinturas – obviamente simbolizam uma atração pela introspecção, pela fantasia e pelo narcisismo estético. Os interiores calmos de Vermeer, a exuberância de Bonnard na sua representação da luz e a atmosfera um tanto fantasmagórica característica de Hopper – absorvendo as influências desses artistas que ele admira, Duprat explora infinitamente seus próprios corredores transparentes de luz...”
Miki Kaneko Gekkan Bijutsu Art Monthly, Tóquio, novembro de 2004
"A obra do artista brasileiro Marcos Duprat é relativamente pouco conhecida em seu país. A exposição LIMITES reúne uma seleção de 60 obras do acervo pessoal do artista realizadas ao longo de mais de quatro décadas de sua atividade criativa combinada à carreira diplomática. São pinturas a óleo sobre tela e papel, em que utiliza também pastel, aquarela e lápis, que evoluíram da figuração à abstração.
O conjunto da obra de Marcos Duprat é tributário de sua vivência singular e fecunda como artista e diplomata com o olhar atento às produções mais significativas das artes brasileira e estrangeira com as quais manteve contato direto e enriquecedor. Após sua formação artística e mestrado em Washington, D.C., os sete anos
na Europa e nove em países asiáticos deixaram traços nítidos em seus trabalhos.
A exemplo de Bill Viola e Hiroshi Sugimoto, artistas contemporâneos que atuam como curadores de suas próprias exposições, Duprat é o curador da presente mostra, que a Fundação Biblioteca Nacional tem o prazer de realizar, de modo a proporcionar o encontro do público carioca com a sua trajetória criativa."
Helena Severo
Presidente da Biblioteca Nacional
“... Marcos Duprat é, por força de suas funções diplomáticas, um andarilho do mundo. Seu olhar de artista seleciona, das culturas e paisagens visitadas, elementos sensíveis que são incorporados em sua obra, consolidando um permanente processo de investigação pictórica, no qual a luz desempenha função estrutural. A recente e longa estada em Tóquio se traduz nos trabalhos que constituem esta mostra: uma sutil articulação de transparências orientais, que se desdobram na folha de papel, em permanente movimento que parece evocar a passagem de um tempo não cronológico, determinado pela poesia e pela dor...”
Marcelo Mattos Araujo, São Paulo, 2006
“... uma pintura figurativa, ao primeiro olhar; deve-se, entretanto, desconfiar dessas imagens de leitura aparentemente fácil. Marcos Duprat busca a recriação da realidade e joga com o conceito da dualidade, com todas as suas implicações psicológicas. O visível antecipa o invisível. Os desenvolvimentos recentes em sua obra tendem mais a uma nova pintura metafísica, integrada tanto pelos eventos pictóricos como pela consciência de suas potencialidades.”
Alberico Sala
Corriere della Sera, fevereiro de 1990
“[...] Há pouco, de passagem por Milão, tive a ocasião de ver as novas pinturas do artista brasileiro Marcos Duprat que, como eu já sabia, se dedicava ao figurativo, forma de pintura que recentemente vem sendo objeto de maior atenção e polêmica em confronto com uma certa facilidade que pode caracterizar o abstracionismo. O MASP dedicou em 1979 uma exposição a Duprat. Os críticos que apresentaram o artista foram Vera Pedrosa e Carlos Rodriguez Saavedra. Vera apontava o início de sua formação durante a permanência, ao longo dos anos 70, nos Estados Unidos, quando a tendência predominante era do hiper-realismo, que andava sucedendo as experiências do “pop”. Eram, então, valorizadas as implicações da arte fotográfica; dava-se valor não bem ao figurativo-figurativo, mas ao figural, isto é, à figura representada numa nova situação. O dado original do estilo de Duprat foi de optar pelo reflexo da figura na água e nos espelhos.
Nos anos seguintes o pintor perseguiu sua vocação, dando prova de uma reflexão mais intensa, como se pode constatar no grupo de meditados desenhos, preparação para enfrentar as composições em pintura. Neste desenhar, o estilo de Duprat esclarece sua cuidadosa atenção para com a realidade das formas.
O que ele me mostrou recentemente em Milão confirma suas intenções: estender à tela os próprios pensamentos, voltados ao poético, em composições onde a natureza denota o seu valor. Em algumas dessas obras, o artista compõe paisagens e naturezas mortas, seccionando-as em quadraturas. Uma composição atraente e rica de efeitos. Tendo chegado a este ponto, só poderia acrescentar uma sucessão de adjetivos. Mas prefiro reservar essa incumbência aos visitantes da atual mostra que acolhi nas salas do MASP...”
Pietro Maria Bardi, MASP, 1988
“... Há dois anos e meio em Tóquio, estimulado pela luz suave e pela mudança das estações no Japão, Duprat sai com freqüência para desenhar a natureza na área de Shiroganedai, onde reside. O artista tem uma preferência natural por cores brilhantes e enche a tela de luz, quase ao ponto de sua saturação, o que, a princípio, remete ao impressionismo. Entretanto, quando se observa com atenção, não obstante o intenso jogo de luz e sombra, a existência material da pintura é etérea, com uma qualidade quase atmosférica, e o harmonioso esquema de cores é orquestrado com equilíbrio...
O mundo criado por esse artista é todo ilusão de uma realidade sutil que se estende além da transparência do filme. Ou seria mais apropriado qualificá-lo como um sonho diurno?
A superfície da água ou as formas de peixes na água pintadas pelo artista são como se a luz tivesse penetrado a lente, como se a própria luz tivesse sido permanentemente captada na tela. [...]
As obras agora expostas revelam conceitos contrastantes, tais como natureza e artificialidade, linhas retas e curvas, luz e sombra, Oriente e Ocidente, a presença invisível de alguém e a solidão, que compõem o encanto dessas imagens...”
Takeshi Kanazawa, Tóquio, 2003