“... Tendo mantido ao longo desses anos basicamente o mesmo temário, vem Marcos Duprat agora a público com o enriquecimento formal e cromático de seus temas, com a diferenciação que só o trabalho intenso e concentrado é capaz de dar. O monólogo de seus personagens solitários diante do cosmos acabaria por exigir a expansão do espaço físico da própria pintura, e as telas cresceram em dimensões, criando para o artista, dada a própria extensão da superfície a ser pintada, novos problemas, novos desafios. A constante duplicação de imagem e seu reflexo acabou por pedir a duplicação das simetrias, agora na dimensão tangível dos dípticos, que expandem a natureza dos limites, ampliando-lhes a possibilidade de continuação no espaço físico e no espaço de reflexão, sendo uma das partes sempre a contrapartida do diálogo para a outra: os mergulhadores vão ao fundo, mas voltam à tona; a nudez que enfrenta as trevas, é gratificada pela luz... ”
José Neistein, Washington, D.C., 1980 Feitura das Artes, Editora Perspectiva/ Série Debates/ Arte, 1981, S.P
“... Talvez o verdadeiro ‘jogo’ das composições de Duprat não consista em estabelecer ‘pares’, mas sim multiplicidades que funcionam com um intercâmbio contínuo das partes, em uma transformação tão rápida que o olho a percebe como absolutamente estática. O senso de tempo – a percepção do conceito de transição, amplamente demonstrada em tantas “Passagens”, conceito reforçado pela sequência alucinante de portas, janelas e corredores, onde um corpo, uma estátua ou uma natureza morta não são nada mais que uma ‘presença’ diferente – é acentuado pelo uso da luz, que simultaneamente revela e oculta. Essa percepção do tempo também é visível nas repetições de imagens com suave variação de cor e posição, observando o espaço por fotogramas, como partes de um quebra-cabeça. Nessas imagens, a fragmentação do mesmo objeto, ou o movimento das nuvens e ondas, sempre simulando o real, como que projeta a imagem mais além daquele momento. Como se cada momento não fosse nada além de uma pré-figuração do próximo...”
Roberto Sanesi, Milão, 1990
“... O verdadeiro propósito dessas obras está relacionado a estados de ânimo, a emoções.
Embora exista uma semelhança temática óbvia com as pinturas de pisci- nas de David Hockney, há algo de mais profundo no caso de Duprat. Hock- ney é conhecido pelo seu uso do sol brilhante da Califórnia e o branco é a sua cor dominante, enquanto as imagens de Duprat são mais sombrias e noturnas. Com os nadadores de Hockney sente-se o cheiro do cloro. Nas cenas de Duprat, o das algas. As ondulações e os reflexos na superfície da água são com freqüência simplificadas em impressões geométricas. Essas impressões constroem um padrão de losangos sobre os azulejos quadra- dos no fundo ou na beira da piscina.
Em outras obras não há essa referência às piscinas; o nadador está em um lago ou no mar. Não há quase nada sólido nessas imagens, exceto o corpo humano totalmente livre – livre de roupas, livre da gravidade, livre até mesmo de uma identidade, uma vez que os rostos são geralmente ocultos pelo cabelo solto ou pela posição inclinada da cabeça...”
Tom Baker
Daily Youmiuri, Tóquio, abril de 2004
“... O tempo é apenas sucessão de passagens... O espaço é infinito e o tempo está contido em tudo... O tempo se coloca circular e mítico.”
Jacob Klintowitz, Editora Raízes, São Paulo, 1985
“... Acompanho há décadas a carreira diplomática e artística de Marcos Duprat. Sempre admirei a competência e a dedicação com que exerceu cargos de grande responsabilidade que lhe foram atribuídos.
Mas na carreira artística não se trata apenas de competência e dedicação, mas também da devoção e talento com que a vem seguindo desde sempre. É coisa bem diferente: ele domina a arte, e a arte o domina...”
José Mindlin, São Paulo, 2006
“... Com seu regresso a Tóquio em 2000 - onde morou na adolescência - sua paleta se libera e enriquece... Há uma nova ousadia na fatura, ao mesmo tempo em que a natureza começa a oferecer-se ao seu traço sensível e delicado... a luz como elemento de articulação na criação da imagem conduz agora a imagens oníricas e a contemplação de espaços virtualmente construídos pela cor.”
Vera Pedrosa, Rio de Janeiro, 2015
“... A pintura de Marcos Duprat define seu próprio caminho laboriosamente, sem dever nada ao oportunismo da moda e do mercado de arte. Ela também não se remete a questões conceituais, à definição ou ao papel da arte. As influências que vêm do passado – especialmente aquelas do pós-impressionismo italiano – não se relacionam com as conotações acadêmicas do classicismo pós-moderno. Essas influências são, de fato, utilizadas completamente, como ferramentas autênticas para uma pesquisa pessoal intensiva. Os críticos estão certos em apontar a luz como o elemento chave do universo nestas telas. Eu adicionaria que a luz é a substância fundamental no espaço pictórico de Duprat. Toda a mágica destas pinturas está na possibilidade de entrar em espaços ilusórios que se desenrolam além da superfície das telas. Na sua série de pinturas ‘Passagens’, o mistério do espaço está livre de qualquer detalhe prosaico. Não é o espaço homogêneo e centralizado da pintura clássica, mas, como o título sugere, a experiência da passagem para uma região de fronteiras indefinidas. Um espaço leva ao próximo, e aquele ao seguinte... As portas abertas mostram assim como escondem. Elas quase funcionam como um símbolo da visão, ou do desejo, sempre oblíquas e fragmentadas...”
Valeria Gonzalez, Professora da Universidade de Buenos Aires Buenos Aires, 2000
“... Sua obra consolida um permanente processo de investigação pictórica no qual a luz desempenha função estrutural... os desenhos constituem uma sutil articulação de transparências orientais, que se desdobram na folha de papel, em permanente movimento que parece evocar a passagem de um tempo não cronológico, determinado pela poesia e pela dor...”
Marcelo Mattos Araújo, São Paulo, 2006
“... O idioma que inventa tem somente três elementos: um orgânico, outro abstrato e um terceiro translúcido... A luz - elemento transparente – integra e envolve todos os outros...”
Carlos Rodriguez Saavedra, Lima, 1979
“... Os três temas que dominam a pintura de Marcos Duprat são o mergulho - a piscina - o reflexo - o espelho e as águas - e a luz - geralmente penetrando por uma porta, ao final de uma escada, meta buscada pela figura. Ou também por uma janela, à maneira dos flamengos.
Marcos Duprat não se preocupa muito em analisar estes temas de um ponto de vista psicológico — por que surgiram, por que permanecem — mas lembra que o mito de Narciso, unindo os três temas, é doloroso, pois ele morre. Sua preocupação, diz, é fundamentalmente formal, isto é, ele busca uma distância tanto da geometria quanto do hiper-realismo, destacando a presença da mão na linha irregular, na textura, nas imperfeições que fazem vibrar a matéria. Ele insiste neste ponto porque, geralmente, na reprodução de seus trabalhos, esta presença humana do pintor desaparece, prevalecendo um brilho ou assepsia que não correspondem à realidade tátil da pintura.
O pintor fala em passagens (ritos de passagem?) e este conceito pode unir os dois polos de sua pintura: tema e forma. A adoção do díptico como forma de representação pode ser uma conseqüência do desdobramento do tema. Mas também um novo jogo, pois a separação dos dois quadros são mesmo tempo que amplia o espaço representacional afirma a fisicalidade do suporte. Que, por sua vez, pretende ser negada, quando o pintor rebaixa a moldura, como se quisesse deixar a pintura se expandir, virtualmente, além dos bordos...”
Frederico de Moraes, Rio de Janeiro, 1982